segunda-feira, 27 de julho de 2015

Corinthians 1982-1984

ESQUADRões do brasil– CORINTHIANS 1982-1984

27/07/2015
Fonte:Imortais do Futebol
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Grandes feitos: Bicampeão paulista em 1982 e 1983 e símbolo máximo de uma geração que criou um novo jeito de participar de um clube, não só com a bola nos pés, mas praticando política.
Time base: Leão (Solito); Alfinete, Mauro, Juninho (Daniel González) e Wladimir; Biro-Biro, Paulinho (Eduardo), Sócrates e Zenon; Ataliba e Casagrande. Técnico: Mário Travaglini.
“Ser campeão é detalhe…”
Um dos maiores times que o Corinthians já teve, curiosamente, não é tão lembrado pela sutileza com a bola nos pés ou pelos passes precisos de seu meio de campo, sobretudo de certo Doutor. Esse time é lembrado por ser único, por emancipar o nome do clube no Brasil e por representar fielmente o momento político que o país vivia na década de 80. Esse time foi o Democrático Corinthians Paulista, um time representado no movimento “Democracia Corintiana”, que marcou a inédita participação dos jogadores no dia a dia dos assuntos administrativos e burocráticos do clube, bem como na gestão do mesmo. Jogadores apitavam tanto quanto um engravatado e davam suas opiniões da maneira que lhes fosse conveniente. Mas esse esquadrão não vivia apenas de política, claro. Vivia de futebol. E venceu dois campeonatos paulistas consecutivos, ambos contra o grande rival na época, o São Paulo. De quebra, evitou o tricampeonato do tricolor em 1982, algo que o clube do Morumbi nunca conseguiu no estado. Era demais para a fiel torcida? Era. Era mágico, assim como Sócrates, Zenon, Biro-Biro e Casagrande também eram. Vamos relembrar.

Renascimento
O ano de 1981 foi terrível para o Corinthians. O clube amargou uma 26ª colocação no campeonato brasileiro e o oitavo lugar no paulista, que culminaram com o “rebaixamento” do clube à Taça de Prata de 1982 no campeonato nacional. A disputa, porém, previa a ascensão dos clubes no mesmo ano à divisão principal, um claro exemplo de total desorganização do futebol brasileiro à época (apesar de que não mudou muito, não é mesmo?). Os péssimos resultados viriam ao mesmo tempo com o fim da gestão do folclórico presidente Vicente Matheus, no começo de 1982. Waldemar Pires assumiu como novo presidente e trouxe novos ares ao time. Ele, o sociólogo Adílson Monteiro Alves, e jogadores politizados como Sócrates e Wladimir começaram um novo modelo de gerir o clube, uma espécie de autogestão. Estava feita a revolução.
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O início da Democracia
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O novo modelo de gestão do clube colocava funcionários, dirigentes e jogadores no mesmo nível em termos de votos. Todos participavam das decisões e todos tinham voz dentro do Corinthians. Sócrates tinha a mesma voz que o roupeiro, Wladimir o mesmo poder de voto que o massagista e assim por diante. Tudo era democrático, claro e simples. Os jogadores liberaram atletas casados da concentração, o publicitário Washington Olivetto passou a atuar na área de marketing do clube e criou o termo “Democracia Corintiana”, artistas como Rita Lee e Boni passaram a integrar um conselho de “notáveis” dentro do Timão e a marca da democracia passou a ser difundida por todo o país. Foi um sucesso. Que logo seria refletido dentro de campo.
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Brasileiro bate na trave
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O primeiro grande desafio do time seria no Campeonato Brasileiro. O clube passou pela taça de prata e fez uma ótima campanha, chegando até as semifinais da competição. Porém, o Timão não conseguiu superar o grande Grêmio de Leão, De León, Paulo Isidoro, Tarciso e Baltazar, então campeão brasileiro de 1981. Mesmo com as derrotas, o time comemorou um honroso quarto lugar e ganhou o ânimo necessário para a disputa do Campeonato Paulista.

O primeiro caneco
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O favorito à conquista do Paulista de 1982 era o São Paulo, com craques como Waldir Peres, Oscar, Dario Pereyra e Zé Sérgio. O time tinha a chance de conquistar um inédito tricampeonato paulista, mas não contava que na final encontraria o Corinthians, seu principal carrasco. A decisão foi toda do Timão, que venceu o primeiro jogo por 1 a 0, gol de Sócrates, e a partida decisiva, com um categórico 3 a 1, gols de Biro-Biro (2) e Casagrande. Era o êxtase e a alegria que o time mais democrático do país precisava: Corinthians campeão, e colocando fim no sonho do tri do grande rival. O time venceu 28 dos 40 jogos que disputou, perdendo apenas 4. Foram 72 gols marcados e apenas 26 sofridos. Para completar a festa, Casagrande seria o artilheiro da competição com 28 gols. Um final de ano delicioso para o clube.
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Reforços na luta por mais
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A Democracia estava em seu auge no ano de 1983. Por isso, o Corinthians aproveitou para se reforçar. Vieram o zagueiro Juninho, o volante Paulinho e o grande goleiro Leão, que, mesmo com suas qualidades em campo, não foi adepto ao modelo de gestão do clube, o que causou certos desconfortos internos. Problemas à parte, o time tinha uma boa equipe para tentar novas conquistas. No Brasileiro, o clube não foi bem e terminou apenas na 10ª colocação. O ponto alto do torneio foi a goleada de 10 a 1 sobre o Tirandentes-PI, a maior da história do torneio em todos os tempos. Sócrates marcou quatro gols naquele jogo. Mesmo com a decepção no torneio nacional, o Timão ainda tinha o campeonato paulista…
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O Corinthians democrático: com um meio de campo talentoso e um ataque perigosíssimo com Casagrande em seu auge, o Timão jogava muito naquela época.
O Corinthians democrático: com um meio de campo talentoso e um ataque perigosíssimo com Casagrande em seu auge, o Timão jogava muito naquela época.

Bicampeão, de novo contra o São Paulo
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O Corinthians decidiu o Paulistão de 1983 de novo contra o São Paulo, após eliminar o Palmeiras nas semifinais. No primeiro jogo, o Timão venceu novamente por 1 a 0, como no ano anterior, com gol dele, Sócrates. Na partida de volta, um empate garantiria o bicampeonato. Sócrates abriu o placar para o Corinthians. Mas a poucos minutos do fim o São Paulo empatou. Não adiantou. O Timão conquistava o bi, o primeiro desde o jejum. Sócrates marcou 21 gols naquele campeonato e jogou muito. Foram 48 jogos com 24 vitórias e apenas 7 derrotas, além de 68 gols marcados e 39 sofridos.  O título era a consagração da Democracia, que misturava ousadia e coragem fora das quatro linhas, liberdade de expressão e muito talento com a bola nos pés.
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Fim do encanto
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Em 1984 o Corinthians quase chegou à final do Brasileiro. O clube fez uma apresentação memorável contra o grande Flamengo no jogo de volta das quartas de final e venceu por 4 a 1. A vitória foi tão sensacional que o time relaxou nas semifinais, e perdeu para o futuro campeão Fluminense, de Assis, Branco, Ricardo Gomes, Delei, Romerito e Washington. A eliminação culminou, ainda, com a saída da principal estrela corintiana, Sócrates, que foi jogar na Fiorentina, da Itália. O encanto do time estava perdido. No paulista, a perda do tricampeonato estadual para o Santos sepultaria de vez o movimento da Democracia. Jamais um time no Brasil teve outro lampejo democrático como aquele Corinthians 1982-1984. Nenhum clube mesclou o momento que o país vivia com futebol de maneira tão perfeita quanto Sócrates, Wladimir, Biro-Biro e Casagrande. A Democracia Corintiana foi, sem dúvida, um marco no futebol brasileiro e nos cenários político e social da década de 80. O futebol praticado por aquele esquadrão também. É um time imortal, para sempre na memória de todos os corintianos. “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”.
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Os personagens:
Solito: foi titular na temporada de 1982, ajudando muito o time a avançar às semifinais do Brasileiro e a conquistar o título paulista com grandes defesas. Perdeu espaço com a chegada de Leão em 1983.
Leão: eterno temperamental e polêmico, o goleiro Leão não participou da Democracia Corintiana. Sua posição avessa causou muitas desavenças internas. Ficou apenas um ano, o bastante para levantar o Paulista de 1983.
Alfinete: era lateral direito do timão bicampeão paulista 1982/1983. Não tinha a mesma raça e eficiência de Wladimir lá na outra ponta, mas não comprometeu.
Mauro: zagueirão, Mauro jogou de 1978 até 1987 no Corinthians. Era um dos símbolos da raça do time, peça chave nas conquistas do Paulista de 1982 e 1983.
Juninho: marcou época na zaga da Ponte Preta e inclusive integrou o grupo da seleção que disputou a Copa de 1982. Foi para o Corinthians e lá venceu o Campeonato Paulista de 1983.
Daniel González: uruguaio símbolo de raça, González formou um paredão com Mauro na Democracia. Conquistou rapidamente a torcida, mas logo foi vendido ao Vasco, em 1983.
Wladimir: símbolo do Corinthians e um dos maiores ídolos da história do clube, Wladimir atuou em mais de 800 jogos pelo Timão. Foi o dono da lateral esquerda do clube e peça fundamental no movimento da Democracia.
Biro-Biro: era senhor da raça corintiana. Em 1982, fez um gol por entre as pernas de Waldir Peres na final contra o São Paulo, que garantiu o título paulista. Outro grande ídolo do Timão.
Paulinho: fez parte do “quadrado” da Democracia no meio de campo, ao lado de Biro-Biro, Sócrates e Zenon. Tinha muita raça e vontade, que acabavam compensando a falta de técnica. Foi o bastante para brilhar e ganhar rapidamente a torcida.
Eduardo: veloz e moderno, Eduardo era meia no time bicampeão paulista de 1982/1983. Foi um importante jogador no sucesso do time na época.
Sócrates: foi o maior ídolo da história do Corinthians. O Doutor Sócrates liderou o movimento da Democracia Corintiana e esbanjava classe em campo, com passes de precisão cirúrgica, toques de calcanhar de arrebatar o coração e gols, muitos gols, golaços. Foi também um dos maiores meio-campistas da história do futebol brasileiro e mundial. Sua morte tão precoce, no ano passado, bem no dia em que o Corinthians conquistou o pentacampeonato brasileiro, ainda dói no coração do torcedor alvinegro. Sócrates é e será sempre um Imortal do futebol.
Zenon: brilhou no Guarani campeão brasileiro de 1978 antes de fazer história também no Corinthians. Jogou de 1981 até 1985 no Timão e foi outro importante articulador da Democracia. Era fatal em cobranças de falta e nos lançamentos. Um dos maiores de seu tempo no meio de campo.
Ataliba: foi coadjuvante, mas fundamental no ataque do Timão bicampeão estadual. Fez uma dupla memorável com Casagrande e virou símbolo do time.
Casagrande: outro politizado, Casagrande desandou a fazer gols na época da Democracia. Foi ídolo da torcida e mostrava o lado despojado da época. Artilheiro e matador, Casagrande foi referência no ataque do clube por anos.
Mário Travaglini (Técnico): Travaglini foi um dos precursores do futebol moderno no Brasil, com aplicação tática e muita qualidade no passe. Implantou esse estilo na Máquina Tricolor do Fluminense em 1976, onde conquistou o Campeonato Carioca. Experiente, chegou ao Corinthians em 1982 e logo conquistou o campeonato paulista daquele ano e de 1983. Foi um dos grandes treinadores do nosso futebol.

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