domingo, 26 de julho de 2015

Cruzeiro-2003

ESQUADRÕES DO BRASIL– CRUZEIRO 2003

26/07/2015
Fonte:Imortais do Futebol
Grandes feitos: Campeão Brasileiro (2003), Campeão Invicto da Copa do Brasil (2003) e Campeão Mineiro Invicto (2003). Primeiro e único clube do Brasil a conquistar a Tríplice Coroa Nacional (Torneio Nacional, Copa Nacional e Campeonato Estadual) em uma mesma temporada.
Time base: Gomes; Maicon (Maurinho), Cris (Luisão), Edu Dracena e Leandro; Maldonado, Augusto Recife (Felipe Melo), Wendell (Zinho / Martinez) e Alex; Aristizábal (Márcio Nobre) e Mota (Deivid). Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

“Um craque. Um elenco de talento. E uma coroa para a eternidade.”
Até o ano de 2003, nunca um clube brasileiro havia conseguido a proeza de vencer, em uma só temporada, todos os principais torneios da “era moderna” disputados em solo nacional: o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e o Campeonato Estadual. Muitos haviam passado perto, outros sucumbiram em retas finais e a maioria não mostrava planejamento, organização e elenco suficientes para ser tão regular por um ano inteiro. Não até o Cruzeiro de 2003 encantar a todos e vencer simplesmente tudo, com um time composto por “22 titulares”, uma organização bem feita, um técnico estrategista e no ápice de seu talento e um craque irresistível em campo: o meia Alex, que já havia tido destaque no Palmeiras do final da década de 90 e teve, em 2003, seu melhor ano na carreira ao conduzir com maestria um time com várias ferramentas, várias possibilidades, várias maneiras de jogar. Luxemburgo montava sua equipe de acordo com o adversário, usava e abusava da força do Mineirão e deixava Alex reger a orquestra azul em campo. No começo do ano, veio o Campeonato Mineiro, fácil, fácil. Depois, a Copa do Brasil (ambos invictos). E a cereja do bolo foi o inédito Campeonato Brasileiro, o primeiro na história disputado por pontos corridos, com uma campanha de encher os olhos, com 100 pontos ganhos em 46 jogos, mais de 100 gols marcados e aproveitamento superior a 70%. É hora de relembrar.
As peças certas nos locais certos
Depois de uma década inesquecível nos anos 90, quando ganhou pelo menos uma taça por ano, o Cruzeiro iniciou os anos 2000 vencedor, mas sem troféus de peso. Em 2002, o clube levou a Copa Sul-Minas e o Supercampeonato Mineiro, mas as principais competições do ano passaram longe da Toca da Raposa. Com isso, o time decidiu reforçar o elenco com contratações pontuais e certeiras que serviriam como munição para o técnico Vanderlei Luxemburgo aprontar das suas. O clube trouxe o lateral direito Maurinho, o meia Martinez, os atacantes Aristizábal, Mota e Deivid e o zagueiro Edu Dracena, além de outras peças para compor um elenco que já era muito bom, com o goleiro Gomes, o ala esquerdo Leandro, os meio campistas Maldonado, Wendell e Zinho e o craque Alex. Com mais de um bom jogador para cada posição, Luxemburgo tinha em mãos um dos maiores e melhores plantéis do país, que iria dar liga muito em breve.
Taça 1 – Campeonato Mineiro
O primeiro título do ano da Raposa foi o Campeonato Mineiro, disputado em turno único por pontos corridos. A equipe azul venceu o torneio sem dificuldades com 10 vitórias e dois empates em 12 jogos, com 35 gols marcados (melhor ataque) e sete sofridos (melhor defesa), com destaque para a goleada de 4 a 2 em cima do maior rival, Atlético-MG, com dois gols de Alex, um de Deivid e outro de Marcelo Ramos. Alex, inclusive, foi o artilheiro do time no torneio com nove gols, já mostrando seu faro de artilheiro apurado, além de exercer o papel de garçom como sempre. A torcida gostou do que viu em Minas, mas os voos do time estavam apenas começando. Era hora da Copa do Brasil.
Invencível
O Cruzeiro estreou na Copa do Brasil em fevereiro, ao vencer o Rio Branco (ES) por 4 a 2, eliminando o jogo de volta. Na sequência, o time encarou o Corinthians (RN) e só empatou em 2 a 2 na partida de ida. Na volta, no Mineirão, show e goleada por 7 a 0 – paralelo à Copa, o Cruzeiro já disputava o Campeonato Brasileiro, o primeiro por pontos corridos, com 24 clubes e longas 46 rodadas. Depois de despachar o Corinthians potiguar, os azuis eliminaram o Vila Nova (GO) com duas vitórias: 2 a 0 e 2 a 1. Nas quartas de final, em maio, era hora de encarar o Vasco, e o time de Luxemburgo ainda estava invicto na temporada, ostentando uma invencibilidade desde novembro de 2002. No primeiro jogo, em Minas, vitória por 2 a 1 do Cruzeiro, gols de Aristizábal e Alex. Na volta, empate em 1 a 1 e classificação para as semifinais. O adversário foi o difícil Goiás de Fabão, Josué, Danilo, Dimba e Araújo. No primeiro jogo, em Goiânia, vitória mineira por 3 a 2 num jogaço, com gols de Aristizábal e Deivid (2). Quatro dias depois, pelo Brasileirão, o Cruzeiro perdeu sua invencibilidade de 36 jogos, em Salvador, na derrota por 2 a 1 para o Vitória. O revés não abalou os comandados de Luxemburgo, que na semana seguinte voltaram a vencer o Goiás, por 2 a 1, e garantiram vaga na grande final da Copa do Brasil. O adversário seria o Flamengo.
Taça 2 – Copa do Brasil
Na final da Copa, Cruzeiro e Flamengo se enfrentaram pelo título nacional e pela vaga na Libertadores de 2004. A primeira partida foi no Maracanã, com mais de 72 mil pessoas. O Cruzeiro, mesmo longe do Mineirão, acuou o Flamengo e esbanjou qualidade no meio de campo e no ataque. Depois de um primeiro tempo sem gols, o Cruzeiro conseguiu abrir o placar aos 30 minutos da segunda etapa, com Alex, sempre ele. A vitória por 1 a 0 era o melhor dos mundos para o time azul, que jogaria pelo empate em casa. Mas, nos acréscimos, Fernando Baiano empatou para o Flamengo, que ganhou uma sobrevida para a grande decisão.
No Mineirão, porém, o Cruzeiro mostrou quem é que mandava. Com uma atuação de gala e um primeiro tempo alucinante, o time marcou três gols, com Deivid, aos 1´, Aristizábal, aos 16´, e Luisão, aos 28´. Na segunda etapa, com os mais de 79 mil torcedores já gritando olé, o Flamengo descontou com Fernando Baiano, mas foi tarde: Cruzeiro 3×1 Flamengo. Pela quarta vez, e de maneira invicta, o Cruzeiro era campeão da Copa do Brasil. Com o fim da competição, o time teria a tranquilidade para se dedicar apenas ao Brasileirão e tentar fazer história como o primeiro campeão da tríplice coroa.

Taça 3 – Campanha irretocável no Brasileiro
Desde o começo do Brasileiro, o Cruzeiro via que era possível, sim, vencer o Campeonato Nacional pela primeira vez. O time possuía ótimos jogadores, tinha a consciência tática de Luxemburgo (que vivia talvez uma de suas melhores fases na carreira, trabalhando demais e polemizando de menos) e Alex goleador. Mesmo com as perdas de alguns jogadores no decorrer da campanha, o time se recompôs e seguiu em frente. O título passou a ser visto com outros olhos já na oitava rodada, quando os mineiros venceram em plena Vila Belmiro o grande Santos de Robinho, por 2 a 0, gols de Aristizábal e Mota. Depois da vitória, o time seguiu forte, sempre construindo vitórias tanto em casa quanto fora. O meio de campo e ataque funcionavam perfeitamente e davam conta do recado em qualquer campo, além de o esquadrão azul impor respeito nos adversários quando jogava no Mineirão, como disse Alex à Revista Placar, em 2005:
“O mais gostoso do campeonato foi ver que todos os adversários jogavam no Mineirão como se fossem times pequenos, equipes fechadinhas, só no contra-ataque”. Alex, meia do Cruzeiro em 2003, em depoimento à edição nº 5 da Coleção de Aniversário da Revista Placar (2005).
O time foi extremamente eficiente e só perdeu a liderança, depois da 8ª rodada, em duas oportunidades, para o Santos, quando alguns jovens do elenco começaram a abusar nas noitadas, prejudicando o rendimento da equipe. Luxemburgo tratou de consertar as coisas, as vozes mais experientes também ajudaram e o time entrou nos eixos novamente, voltando à liderança na 29ª rodada para não largar mais. Os azuis engataram oito vitórias seguidas: 4 a 1 no Guarani, em MG; 4 a 1 no Atlético-PR, na casa do Furacão; 3 a 0 no poderoso Santos, no Mineirão, com dois gols de Aristizábal e um de Felipe Melo; 1 a 0 no Corinthians em pleno Pacaembu; 1 a 0 no Vitória, em MG; 3 a 1 no Criciúma, em SC; 2 a 0 no Flamengo, em MG e 1 a 0 no rival Atlético-MG, com gol de Mota. Depois do clássico, uma derrota inesperada em casa para o Juventude por 2 a 1, e outra derrota, para o Inter, em Porto Alegre, até assustaram um pouco a torcida, mas na sequência o time embalou de novo e venceu todos os oito jogos restantes, levantando o caneco com duas rodadas de antecipação, com uma vitória por 2 a 1 sobre o Paysandu no Mineirão abarrotado de gente (mais de 73 mil torcedores). Ao lado da torcida, o Cruzeiro conquistava pela primeira vez o Campeonato Brasileiro, repetindo, enfim, o feito do Galo em 1971. Mas ainda faltavam duas rodadas para aquela campanha que já era mágica ficar ainda melhor.
O Cruzeiro de 2003: Alex era o craque e cérebro do time, mas Wendell, Zinho, Maurinho, Augusto Recife, Aristizábal e as peças de reposição no banco davam à equipe uma força monstruosa.
O Cruzeiro de 2003: Alex era o craque e cérebro do time, mas Wendell, Zinho, Maurinho, Augusto Recife, Aristizábal e as peças de reposição no banco davam à equipe uma força monstruosa.

Coroa mais do que dourada
Depois de garantir a Tríplice Coroa contra o Paysandu, o Cruzeiro tratou de lapidar ainda mais a sua imponente coroa. O time recebeu o Fluminense e goleou por 5 a 2, com gols de Mota, Alex (2), Márcio Nobre e Zinho. No último jogo, contra o lanterna e já rebaixado Bahia, o Cruzeiro não teve dó e aplicou 7 a 0 nos baianos em plena Fonte Nova, com cinco (!) gols de Alex, um de Felipe Melo e outro de Mota. O Cruzeiro, de maneira brilhante e inesquecível, fechava com chave de ouro uma campanha marcante: 100 pontos, 31 vitórias, sete empates, oito derrotas, 102 gols marcados e 47 gols sofridos, registrando 81,16% de aproveitamento em casa e 63,77% fora dela (os melhores do torneio), além de 72,5% de aproveitamento geral. A campanha fez do Cruzeiro o time a registrar o maior número de pontos numa só edição de Brasileiro (100), o maior número de vitórias (31), e, claro, o primeiro a faturar a Tríplice Coroa no futebol brasileiro. Alex, estrela maior do time, se tornou o maior artilheiro do clube em uma só edição de Brasileiro com 23 gols, um a mais que Alex Alves, em 1999. A história estava escrita, com caneta de tinta azul. E ouro.

Raposa histórica
Depois das conquistas de 2003, o Cruzeiro venceu apenas campeonatos estaduais, sem a intensidade e brilho da temporada de ouro. Alex deixou a equipe em 2004 para fazer história na Turquia, Luxemburgo foi ser bicampeão brasileiro no Santos e o time teve de se recompor, alcançando até uma final de Libertadores em 2009, mas perdida dolorosamente para o Estudiantes de Verón dentro do Mineirão. Desde então, a equipe tenta se reerguer e retomar o caminho das grandes glórias. Tentar imaginar um clube, nos dias de hoje, conquistando tudo aquilo que o Cruzeiro 2003 conquistou é difícil, ainda mais com a regularidade e números apresentados por aquele esquadrão. Enquanto isso, a torcida azul vive das lembranças e façanhas do timaço composto por músicos exemplares, eficazes e talentosos, sob regência do maestro e craque Alex. Um Cruzeiro imortal.
Os personagens:
Gomes: estreou no Cruzeiro em 2002 e virou titular absoluto no ano de 2003. Seguro, dono de reflexos rápidos e muito bom no posicionamento, passou segurança a todo o time e foi um dos principais destaques. Chegou à seleção graças às suas atuações com a camisa azul.
Maicon: começou no Cruzeiro em 2000 como exímio apoiador pelo lado direito, mas não tão eficiente na marcação. Ajudou a equipe em alguns jogos da campanha do Brasileiro de 2003, até virar titular em 2004.
Maurinho: depois de brilhar com a camisa do Santos em 2002, Maurinho foi para o Cruzeiro em 2003 para ser bicampeão. Parecia um maratonista de tanto fôlego que tinha para ir e vir na lateral direita do time. Apoiava o ataque e ajudava a defesa com a mesma categoria e disposição.
Cris: muito bom na cobertura e seguro, o zagueiro foi fundamental na conquista do Brasileiro de 2003, fazendo uma dupla memorável com Edu Dracena. Suas atuações o levaram para a França, quando foi brilhar no Lyon.
Luisão: jogou muito na conquista da Copa do Brasil, marcando um dos gols da final contra o Flamengo. Alto, habilidoso e técnico, esbanjava categoria na zaga da equipe azul. Uma pena que deixou o time durante a temporada para jogar no Benfica, de Portugal.
Edu Dracena: não inventava, jogava o simples e o fazia muito bem. Compôs uma dupla de zaga memorável ao lado de Cris na campanha do Brasileiro de 2003, além de ter ido muito bem com Luisão no Mineiro e na Copa do Brasil. Hoje, brilha no Santos.
Leandro: assim como Maurinho pela direita, Leandro era a velocidade e apoio puros na ala esquerda do Cruzeiro. Ajudava tanto o ataque quanto a marcação, jogando sempre com regularidade.
Maldonado: foi uma das maiores estrelas do time na temporada e o xerife do meio de campo azul, marcando, gritando e jogando muito. Muito querido por Luxemburgo, foi quase intocável no esquema tático do time e peça chave para a segurança no setor defensivo pelo meio. Ganhou o carinho da torcida para sempre.
Augusto Recife: começou no Cruzeiro em 2001 e fez ao lado de Maldonado uma ótima dupla de volantes, daqueles carrapatos e super marcadores. Ficou no time até 2004, até ir para o Internacional e passar a perambular por vários clubes, sem o brilho que teve com a camisa azul.
Felipe Melo: antes de ganhar fama mundial com seu estilo bad boy e com suas atuações pela seleção na Copa de 2010, Felipe Melo jogou muito bem com a camisa do Cruzeiro em 2003, participando de todas as conquistas da temporada. Marcava bem no meio de campo e aparecia como elemento surpresa no ataque, marcando alguns gols.
Zinho: veterano, Zinho deu um toque de experiência ao meio de campo do Cruzeiro na conquista do Brasileiro de 2003, ajudando os mais jovens nos momentos complicados. Tornou-se pentacampeão brasileiro com a conquista pelo clube azul.
Wendell: volante muito técnico, Wendell jogou bem durante toda a temporada, sendo outra peça chave no meio de campo cheio de alternativas e talentos do Cruzeiro naquele ano de 2003.
Martinez: chutava muito bem e tinha facilidade em bater na bola, sendo muito útil nas trocas de passes e construção de jogadas. Outro com destaque nos canecos de 2003.
Alex: cerebral, com ampla visão de jogo, letal nas bolas paradas, artilheiro, craque. Alex foi tudo e mais um pouco no Cruzeiro de 2003. Sem ele em campo, dificilmente o time azul teria tido tanto sucesso naquela temporada de ouro. Liderou a equipe, foi capitão, comandava todas as jogadas e sempre tinha a bola em seus pés. Foi o craque do Brasileiro daquele ano e o maior jogador da temporada no país. Ídolo eterno da torcida cruzeirense.
Aristizábal: o colombiano jogou demais naquele ano e foi um dos artilheiros do Cruzeiro no ano, principalmente no Brasileiro, quando marcou 21 gols. Rápido e muito esperto, foi um perigo para as zagas adversárias. E uma alegria para a torcida azul.
Mota: mesmo na reserva em vários jogos, marcou 16 gols no Brasileiro de 2003, sendo uma das maiores provas da força do conjunto azul naquele torneio. Muito oportunista, foi decisivo para a conquista.
Deivid: artilheiro voraz, ao lado de Alex fez a festa no Cruzeiro no primeiro semestre de 2003, sendo o artilheiro da equipe na Copa do Brasil, com 7 gols, além de participar dos primeiros jogos do time no Brasileiro. Pena que foi seduzido pelo futebol europeu e não ficou para o bolo do final do ano.
Márcio Nobre: chegou para suprir a saída de Deivid e não comprometeu. Marcou gols e ajudou a equipe na conquista do Brasileiro de 2003.
Vanderlei Luxemburgo (Técnico): com muito trabalho, foco e estratégias, Luxemburgo soube como ninguém fazer história no Cruzeiro e no futebol brasileiro ao conquistar a Tríplice Coroa em 2003 com um grande elenco e bons jogadores para cada posição do campo. Manteve a sina vencedora na temporada seguinte, quando comandou o Santos na conquista do Brasileiro de 2004. Pelo feitos daquele ano mágico, o treinador entrou para sempre no rol dos maiores do Cruzeiro.

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